Black Sabbath: Technical Ecstasy (1976)
A capa é divertida, ao menos.
Technical Ecstasy é flerte antiquíssimo - anterior à minha descoberta de Sabbath - em razão da capa fascinante. De pequeno, vislumbrava épica batalha entre robôs filosoficamente distintos - a máquina à esquerda, dotada de beleza e sofisticação, combatia protótipo de bordas não diferenciáveis, remetentes ao construtivismo soviético.
Coloquei as mãos em uma cópia do álbum através de uma grande liquidação do Vinil na Net, loja de discos do meu querido professor de literatura Eduardo Rocha. Ao compartilhar o fato - e meu intrínseco encanto com a capa! - com Kripka, fã fervoroso da banda e, por sorte recíproca, um dos meus melhores amigos, recebi curiosa revelação: contrastando minha teoria infantil, a interação robótica ilustrada é, por mínima descrição, primal.
Não que eu seja remotamente puritano, longe disso. A quebra de expectativa levou consigo parte da mística da arte. A capa é divertida, ainda.
A música de Technical Ecstasy me surpreendeu com um som - em primeira audição - bastante pretensioso e disruptivo, ligeiramente distante da assinatura sonora da banda. Back Street Kids é um chute na porta e me preparou para um álbum que não encontrei nas músicas consecutivas. You Won't Change Me funciona melhor como ideia que execução, ao passo que It's Alright já foi gravada - e de forma mais interessante - por bandas esquecíveis de power pop. Gypsy é uma tentativa legítima de um épico, ainda que a letra não necessariamente acompanhe a ópera das cordas. All Moving Parts é uma grande confusão de propostas, salva por um instrumental fresco e simbiótico de Butler e Iommi. Rock n' Roll Doctor fracassa em entregar qualquer clímax, sendo uma promessa infundada de três minutos.
She's Gone - drama infindável com melodia coerente, verdadeiramente tocante - e Dirty Women - ápice criativo do projeto - concluem o álbum em altíssimo nível e mascaram a viagem exaustiva que Technical Ecstasy oferta.
A capa é divertida, ao menos.